Mujo

“Uma das coisas mais difíceis para um investidor profissional é ir todo dia para o escritório e não fazer nada” Joel Greenblatt

Mujo é uma palavra japonesa, de origem budista, que representa a impermanência, a aceitação da inevitabilidade da mudança. Em outras palavras, mujo representa os ciclos com seus respectivos altos e baixos, as coisas que vem e vão e as mudanças no nosso ambiente que estão além do nosso controle. E cabe a nós aceitar e lidar com essas situações novas que aparecem. Isso, de certa forma, não tem tudo a ver com o ato de investir?

Warren Buffett tem uma abordagem diferente para endereçar esse mesmo tema. Ele gosta de fazer paralelos com beisebol. Ele analisa que um rebatedor deve escolher pacientemente qual a melhor bola em vez de tentar rebater todas as bolas. Mas no beisebol o rebatedor se vê pressionado em determinado momento em rebater alguma bola pois existe uma penalidade, enquanto que para um investidor ele pode deixar passar todas as bolas que ele quiser, sem receber penalidades, e só investir naquela empresa que ele realmente vê potencial alto de valorização com baixa margem de risco. A única penalidade para o investidor é a de perder dinheiro. Não há penalidade por perder oportunidades de investimentos.

Seth Klarman ressalta a importância da calibragem. Se a barra fica muito alta, ou seja, o nível de exigência para aprovar um investimento fica muito restrito você pode ficar fora do mercado por um longo período de tempo. Se a barra está posicionada muito baixa, no sentido de critérios menos restritivos, você estará totalmente investido muito rapidamente. Experiência e uma linha de raciocínio dinâmica são pontos importantes para um bom processo de calibragem.

Nesse ponto cabe fazer algumas observações. O gestor de fundos profissional sofrerá uma grande pressão para estar totalmente investido e terá muito pouco espaço para exercer sua capacidade de realizar um investimento ativo de mais qualidade. E os anos de experiência do gestor enfrentando crises e dificuldades ressaltado por Seth Klarman também é um recurso escasso em muitos gestores de recurso brasileiros que privilegiam equipes jovens, com alta rotatividade e pouca experiência numa sociedade cada vez mais imediatista buscando lucros no curto prazo.

Na filosofia de investimentos da Oaktree eles gostam de explicitar sua crença que perder uma oportunidade de investimento lucrativa é de uma significância bem menor que investir num ativo perdedor. Assim sendo, os clientes estão preparados para resultados que colocam o controle de riscos num patamar mais importante que uma participação em todos os lucros possíveis.

Joel Greenblatt afirma que podemos analisar entre 50 e 70 possíveis investimentos para filtrar e decidir por alguns poucos. E se nós investíssemos em seis ativos que apresentem bons resultados e perdêssemos 15 oportunidades que poderiam ter sido lucrativas, não deveríamos ver isso como uma perda.

Muitas gestoras de recursos desapareceram porque insistiram em obter altos retornos num ambiente de baixos retornos. Isso me lembra da atividade de velejar. Quando não existe vento, temos de admitir esse fato e velejar lentamente até que o tempo mude e consigamos velejar com mais intensidade. Não podemos achar que temos o poder de criar oportunidades quando elas não existem. Não é possível perpetuar altos retornos em períodos de poucas oportunidades.

Artigo baseado no livro: “The Most Important Thing. Autor: Mark Howard.

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