O principal conceito da escola valor, na época de Graham e Dodd e atualmente, é a prática de comprar ações por um preço menor do que elas valem – é o famoso raciocínio de comprar um dólar por 50 centavos. E o investimento nessas ações descontadas implica na noção de margem de segurança, ou seja, uma garantia que permite algum espaço para errar, imprecisões, azar, ou as vicissitudes da economia ou do mercado. Enquanto alguns consideram que o investimento seguindo os princípios da escola valor é um processo mecânico de identificação de barganhas, é na verdade uma sofisticada filosofia de investimentos que recomenda uma análise fundamentalista profunda da empresa, horizonte de investimento de longo prazo, análise do risco para obter limites, e resistir às armadilhas psicológicas.
Muitas idéias e princípios foram criadas por Graham e Dodd, e foram passando por evoluções até os dias de hoje. Um desses conceitos é a percepção de que os mercados são eficientes e os preços das ações em determinado momento refletem com precisão os fundamentos da empresa. Alguma vezes o mercado precifica uma ação corretamente, mas muitas outras não. E os mercados tendem a ser bastante ineficientes no curto prazo, mas tendem a ser mais racionais no longo prazo, pois os resultados das empresas ao longo do tempo vão confirmando ou negando os cenários desenhados pelos analistas e investidores. Nas palavras de Graham e Dodd, “O preço de uma ação é um elemento essencial com frequência, de forma que uma ação pode estar refletida adequadamente nesse preço ou não.” Aqueles que julgam que o mercado é uma máquina precisa de chegar ao valor justo das empresas estão sendo levados emocionalmente pelo instinto do rebanho. A melhor abordagem é comparar o mercado com uma máquina de votação – um concurso de popularidade influenciado pelo sentimento – e nessa condição aparecerão grandes oportunidades de investimentos decorrentes de distorções de preços.
Para Graham a análise de uma empresa começa pela análise financeira, coletando dados passados e procurando de forma conservadora projetar resultados futuros. Também é importante entender o setor e o ambiente competitivo no qual a empresa está inserida, além da qualidade da direção. Ele era muito crítico em relação às projeções futuras, principalmente por ter presenciado tantas projeções de lucros excessivamente otimistas no final dos anos 1920 transformadas em poeira. Também começou com Graham a importância tanto da análise quantitativa, quanto da qualitativa. A análise qualitativa é que dá suporte para a quantitativa pois muitos elementos, aparentemente subjetivos, são fundamentais na projeção dos resultados.
Graham investiu em empresas ruins e situadas em setores ruins e que eram evitadas pelo mercado e ganhou dinheiro. Ele alertava para o risco de investir em empresas glamourosas antecipando resultados ainda melhores e se frustrar. E nesse caso como essas empresas já estavam caras, a correção no preço das ações era mais forte. Existe o conceito de reversão a média no qual empresas que estão com um desempenho inferior tendem a evoluir para a média com melhoras na gestão e buscando se aproximar dos líderes mais rentáveis do setor. Enquanto que empresas que estão num nível de excelência tem mais dificuldade de surpreender o mercado positivamente.
A estabilidade da empresa, e consequentemente dos resultados, também era um aspecto importante na análise do Graham. Ele preferia investir em uma empresa que não tivesse uma margem tão alta, mas que apresentasse uma estabilidade de resultados quando olhado o histórico, em detrimento de uma empresa mais glamourosa que apresentasse margens mais altas, mas com grande volatilidade nos números operacionais e financeiros.
O conceito de margem de segurança ganhou notoriedade nas palavras do Graham. O valor deve estar bem acima do preço pago para que possamos ter estômago para aguentar flutuações de preço pra baixo mais significativas. Pode-se fazer um paralelo com a margem de segurança para se projetar pontes ou navios, ou seja, é dimensionado um estrutura que é mais do que necessária para aguentar tudo que é normal e até eventos muito pouco prováveis.
“Houve momentos na história da Bolsa de Valores, como o crescimento de 1972, em que Graham declarou publicamente que havia uma margem de segurança inadequada. Em 1972, seu raciocínio era de que, embora o poder estimado de ganho das ações estivesse maior do que a taxa de retorno dos títulos do governo, a diferença não era o bastante para garantir uma margem de segurança, dada a vulnerabilidade do retorno sobre o patrimônio para quedas no ambiente empresarial. Assumir o risco não era suficientemente compensador. Isso foi julgado profético depois da forte queda de 1973-74. Os investidores em 1972, como os de 1929, negligenciaram a necessidade de padrões de valor bem estabelecidos e se asseguraram de que os preços pagos não estivessem muito perto da linha de corte, já que isso significaria que os bons valores estavam muito perto dos ruins. Na verdade, os valores bons deveriam estar bem abaixo daquela linha.
Em investimentos você tem de fugir da idéia que você tem de estar investido. Você pode pacientemente esperar pela margem de segurança para entrar no mercado de ações ou em uma ação específica.
Texto baseado nos livros “Grandes Investidores. Glen Arnold” e “Value Investing. From Graham to Buffett and Beyond. Bruce C. N. Greenwald, Judd Kahn, Paul D. Sonkin e Michael Van Biema.”