Philip Fisher

Fischer foi um dos primeiros investidores a focar no tema do crescimento, contrariando a tese de que investidores que buscam empresas com taxas significativas de crescimento não estão preocupados com o preço das ações. O crescimento pode se transformar em valor quando materializado, mas envolve um grau de risco pois pode não ocorrer como planejado, tanto por fatores internos da empresa, quanto externos.

Fischer acreditava ser possível performar melhor que o mercado mas somente com muito foco e detalhe na análise das empresas. Nesse sentido ele aconselhava aos investidores focar em alguns setores e empresas, em vez de olhar o mercado como um todo, para poder aprofundar a análise.

Fischer nasceu em 1907 e teve uma carreira bem longa de 74 anos no mundo dos investimentos, antes de se aposentar aos 91 anos. Veio de uma família grande, e despertou para os investimentos desde pequeno, quando ouviu uma conversa entre a sua avó e um tio, que discutiam sobre os investimentos dela em ações. Ele ficou intrigado e entusiasmado com a possibilidade de comprar uma parte de qualquer empresa com lucros futuros. Em seus anos de adolescência, ele começou a investir e teve ganhos modestos no mercado em ascensão dos anos 1920, ganhando a desaprovação e o desencorajamento de seu pai médico, que estava preocupado que ele estivesse desenvolvendo hábitos de apostador.

Fischer aprendeu muito na recém-fundada Graduate School of Business da Stanford University. Como estudante do primeiro ano em 1927-28, um dia por semana do curso estava agendado para visitar grandes empresas na área de São Francisco sob a tutela do professor Boris Emmett. Essas visitas forneciam conhecimentos valiosos sobre algumas empresas. Os estudantes não só conseguiam ver como elas trabalhavam, como também tinham a oportunidade de fazer perguntas à diretoria e, sob orientação inteligente do professor Emmett, eram capazes de analisar os pontos fortes e fracos de cada empresa. Ao perceber quão valiosa era essa parte do curso, Fischer maximizou suas oportunidades ao oferecer uma carona ao professor nessas viagens, ganhando um tempo a sós com ele, e ouvindo seus comentários inteligentes tanto antes das visitas, quanto, o mais importante, depois delas.

Dessas visitas e comentários, ele formou duas convicções que foram a base de sua filosofia de investimentos:

Compreendeu o conceito de “empresa de crescimento potencial”, em uma época que a expressão era pouco conhecida.

Ficou consciente da extrema importância das vendas e do marketing no sucesso de uma empresa. Mesmo  jovem, ele conseguia ver que grandes investimentos eram frequentemente encontrados em empresas que são capazes, não só de vender seus produtos, mas também de avaliar as mudanças necessárias e os desejos dos clientes.

No verão de 1928, apesar de não ter se formado, ele conseguiu a posição de analistas de títulos em um banco de São Francisco, cujo principal papel era fornecer dados estatísticos para os corretores de títulos. Para Fischer, o trabalho era tediosamente simples e intelectualmente desonesto.

No outono de 1928, ele conseguiu algum tempo para realizar análises sobre os fabricantes de rádio, numa perspectiva de análise de ações e das empresas. Ele optou por focar em fabricantes de rádios. Ele visitou os departamentos de rádios de várias lojas e perguntou aos compradores suas opiniões sobre os três maiores concorrentes do setor. Ele descobriu que a  empresa preferida pelo mercado de ações não era a melhor entre os compradores e clientes. A RCA, uma empresa popular na época, estava apenas se mantendo, enquanto que a Philco, com a novos modelos atraentes e um processo de fabricação eficiente era a preferida pelos consumidores. Nos 12 meses seguintes, as ações da RCA apresentaram uma tendência de queda. Dessa experiência, ele tirou uma lição importante: ler os números da empresa não é suficiente para justificar o investimento nessa empresa. É preciso sair  e conversar sobre a empresa e suas perspectivas com aqueles que possuem relações com a empresa: clientes, fornecedores, concorrentes. Essa atitude investigativa é uma das bases da filosofia de investimento de Fischer.

Fischer estava cada vez mais convencido que as ações estavam muito caras em 1929, prevendo que haveria uma forte correção no mercado. Entretanto ele foi pouco ouvido, nesta época predominava uma tese de uma “nova era”, na qual os preços das ações continuariam subindo refletindo a melhora dos lucros em função das novas tecnologias (rádio, carros, eletricidade) que iriam dar um estímulo maior na economia, como não havia ocorrido no passado. É a famosa tese de “desta vez será diferente”. Esse é um ponto muito debatido entre investidores, economistas, historiadores se existem mudanças estruturais na economia ou o mercado é cíclico e tende a voltar aos mesmos problemas. Não existe uma resposta definitiva para essa questão, mas segundo Fischer, uma perspectiva histórica do mercado de ações fornece uma boa base para pensarmos o passado e projetarmos o futuro.

Em 1930, ele se uniu a uma corretora local com o objetivo de buscar ações atrativas e durante oito meses colocou em prática o que tinha aprendido e pensado. Infelizmente, não serviu muito já que a empresa foi mais uma vítima da Crise de 29 e Fischer acabou sem emprego.

Fischer, em 1931, decidiu então seguir sozinho, com sua própria empresas de investimentos, a Fischer & Co, em uma minúscula sala alugada, sem janelas. O momento era complexo para se começar uma nova empresa. Mas, apesar dos ganhos muito pequenos, foi um momento importante para Fischer para pensar em sua filosofia de investimentos e formar uma carteira de clientes, que eram fiéis a ele principalmente considerando os bons retornos.

Fischer buscava desenvolver sua filosofia de investimento, lembrando de momentos passados com o professor Emmett, e buscando empresas que fossem negociadas a preços inferiores ao valor intrínseco e que tivessem bons fundamentos. Fischer elaborava algumas perguntas para dar base à sua análise das empresas:

  • As pessoas chaves da direção da empresa são competentes?
  • Tem uma forte posição competitiva
  • As operações e o planejamento de longo prazo são bem conduzidos?
  • Há linhas de novos produtos suficientes e com alto potencial para sustentar o crescimento por vários anos?

Fischer, no desenvolvimento da sua filosofia de investimento, já tinha a preocupação em ter investimentos de longo prazo, e se afastar do giro rápido de posições, que poderia até dar um bom resultado no curto prazo, mas não era sustentável e normalmente acabava em desastre.

Durante a segunda guerra mundial, Fischer teve algumas funções da Aviação do Exército e aproveitou esse tempo para desenvolver suas idéias e filosofia de investimentos. Depois da guerra procurou focar em empresas com alto potencial de valorização e formou um grupo de no máximo 12 clientes. Fisher procurava empresas impopulares, mal analisadas, mas intrinsecamente sólidas. Nessa época também Fisher decidiu focar na análise da indústria química. Nessa busca encontrou a Dow, que se transformou num investimento muito bem sucedido.

A análise da Dow Química possui alguns pontos que iriam se transformar nos aspectos relevantes da análise de Fisher. Uma equipe unida buscando resultados conjuntos. Uma visão de longo prazo da alta administração que fizesse sentido. Foco nas áreas de competência, sem querer ampliar excessivamente a grade de produtos. Forte ênfase em pesquisa e desenvolvimento. Saber gerenciar o desenvolvimento das pessoas e mantê-las na empresa por períodos longos. Utilizando essa mesma análise Fisher identificou duas empresas pequenas de tecnologia que viriam a se tornar grandes empresas muito bem sucedidas: Texas Intruments e Motorola.

Com o tempo, Fisher foi desenvolvendo sua filosofia de investimentos, através de raciocínios lógicos, erros e acertos dos outros e pelos seus próprios erros. Fisher adotou o termo Scuttlebutt, que seria traduzido como fofoca ou boato. Na visão de Fisher, Scuttlebutt é o ato de pesquisar sobre uma empresa falando com todas as pessoas que possam agregar valor ao caso de investimento, fornecedores, competidores, clientes, colaboradores, membros de associações comerciais, etc. Depois de realizado o Scuttlebutt, o investidor irá mais preparado para conversar com a gestão da empresa, pois já sabe de pontos positivos e negativos e a imagem geral que outros tem sobre a empresa.

Um ponto importante é a preocupação com o longo prazo. Fisher raramente vendia uma empresa investida antes de completar três anos. Fisher também se preocupava com o crescimento, pois empresas pequenas muito eficientes, podem perder essa característica como o crescimento e se tornarem empresas burocráticas com baixa rentabilidade.

Fisher dava bastante foco à qualidade das pessoas na sua análise de investimentos. Ele achava que a alta gerência deveria ao mesmo tempo estar preocupada com a operação do dia-a-dia e com o planejamento estratégico de longo prazo. Fisher achava que empresas vencedoras deveriam ter salários e bônus acima da média, pois uma alta rotatividade é algo perturbador e acaba custando mais para a empresa. Também é importante a formação de novos talentos e se há grandes disparidades de remuneração entre os diversos níveis da empresa também pode ser um alarme de problemas.

Temos de entender que o universo de investimento de Fisher era bastante diferente do atual. Ele cita por exemplo a Du Pont, que foi fundada em 1802, e começou fazendo pólvora. E com o tempo, em função de um grande investimento em pesquisa e desenvolvimento se expandiu em inovações químicas, como Nylon, Celofane, Neoprene, Teflon e Lycra. Mas muitos pontos importantes da análise de Fisher ainda permance bastante atual. Mas nos dias de hoje a velocidade das mudanças é bem maior.

Na visão de Fisher os analistas profissionais não tem tempo suficiente para analisar profundamente as empresas, além do que, nos tempos atuais existem os interesses dos bancos de investimento que se mesclam aos interesses dos analistas. E as ações tendem a se comportar influenciadas muito mais pelos consensos da comunidade financeira do que da realidade efetiva das empresas. Os mercados tendem a ter um comportamento de manada. Tendências e estilos dominam o mercado financeiro assim como fazem com a indústria da moda. Os investidores devem ter paciência até o mercado retomar a racionalidade, pois as bolhas podem levar tempo, mas explodem. Investidores sérios devem recuar de todo o tumulto do mercado e analisar os fatos calmamente. Paciência e auto-disciplina são necessárias, já que a espera pode ser considerável. Para ser um bom investidor você precisa de um bom sistema nervoso, mais do que uma boa cabeça. Investidores devem ter nervos de aço e colherão boas recompensas.

Se uma empresa está apresentando um índice de preço/lucro alto mas terá um crescimento forte e crescimento ao longo dos próximos anos, talvez seja a barganha do mercado. Não se prenda aos múltiplos no curto prazo.

Fisher gostava de carteiras concentradas para que o investidor pudesse realmente perder tempo analisando as empresas investidas. O objetivo da diversificação é que erros serão cometidos e não podemos depender de muito poucas opções. Mas é melhor ter um bom número das melhores do que um pouquinho de muitas. Comprar ações nas quais você tenha pouco conhecimento é mais arriscado do que ter a diversidade inadequada. O investimento em ações cíclicas deveria ser equilibrado por ações mais estáveis. Não é uma boa idéia investir totalmente em um setor particular, porém, investir em dez ações em dez setores diferentes pode ser diversificar demais.

Nas empresas grandes, bem estabelecidas e que estão crescendo o investimento deveria ser maior, mas não mais que 20%. Empresas médias, ainda não estabelecidas deveriam receber um investimento de 8 a 10% do fundo. As pequenas de alto potencial, mas que por outro lado podem desapontar não deveriam ser maiores que 5%.

Fisher não gostava de fazer um movimento clássico nos dias atuais que é vender a empresa por achar que vai ocorrer algum evento no curto prazo e você poderá comprá-la mais barata. O investidor de longo prazo sempre vai superar o de curto prazo.

Fisher também não era um grande adepto de previsões macroeconômicas. A comunidade financeira dedica muito tempo em advinhar o futuro econômico. Seria melhor se concentrar na procura de empresas sólidas, bem administradas e que estejam com preços baixos. Esse é um tema de vários investidores, mas quando pensamos no Brasil, alguma energia deve ser gasta na análise da economia, pois os movimentos do mercado de ações aqui são muito fortes em determinados eventos políticos. Mas eu concordo que a ênfase deve ser nas empresas.

Fisher teve muita influência sobre muitos investidores nos últimos 50 anos.

Baseado nos seguintes livros: Arnold, Glen. Os Grandes Investidores. Fisher, Philip. Common Stocks and Uncommon Profits. Paths to Wealth trough Common Stocks. Conservative Investors Sleep Well. Developing an Investment Philosophy.

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