Behavioral Investing

As finanças comportamentais são um tema cada vez mais em evidência. Atualmente vários pesquisadores tem procurado entender a relação entre a razão, a emoção e as decisões de investimentos, o comportamento econômico e a tomada de decisão. É uma área que estuda as influências cognitivas, sociais e emocionais observadas sobre o comportamento econômico das pessoas.

Richard Thaler, economista americano da Universidade de Chicago, foi um dos pioneiros, no final dos anos 70, a estudar as relações entre psicologia e economia. Na sua visão, a psicologia apontava para o fato de que as decisões econômicas e financeiras refletiam o poder das emoções sobre os comportamentos. Thaler, por muito tempo, trocou experiências com Daniel Kahneman e Amós Tversky, dois psicólogos e cientistas comportamentais israelenses.

Kahneman e Tversky são os responsáveis pela Teoria da Perspectiva, que rendeu a Kahneman (Amós já havia falecido) o prêmio Nobel de economia em 2002.

A Teoria da Perspectiva pode ser explicada de um modo bem simples:

O que você prefere?

  • Ganhar R$ 3.000,00 – com 100% de probabilidade ou
  • 80% de chances de ganhar R$ 4.000,00

Ao fazer essa pergunta a um grupo, a grande maioria escolhe a alternativa A, ou seja, preferem não correr o risco e garantir os R$ 3.000,00 líquidos e certos no bolso.

Por outro lado, se perguntarmos: O que você prefere?

  • Perder R$ 3.000,00 – com 100% de probabilidade ou
  • 80% de chance de perder R$ 4.000,00?

Desta vez, a maioria escolhe a alternativa D, ou seja, preferem correr o risco de perder R$ 4.000,00, acreditando no sucesso de 20% de chances de não perder, mas evitam a perda líquida e certa.

Isso significa que as pessoas em geral têm aversão à perda e não aversão ao risco – o risco é aceitável quando se busca evitar a perda. Segundo Kahneman, pela Teoria da Perspectiva perder dói 2,5 vezes mais do que o ganho.

O risco é inerente a qualquer atividade humana, pois viver já é um risco. Entretanto nos primórdios da origem humana, possivelmente os sobreviventes foram aqueles mais avessos ao risco e isto deve estar sedimentado no cérebro humano há milhões de anos. É provável que esses vieses de comportamento tenha origem no processo evolutivo do ser humano. A evolução é um processo muito lento e provavelmente nossos cérebros estão concebidos para o ambiente que lidamos há 150.000 anos atrás, nas savanas africanas, e não para lidarmos com a revolução industrial de 300 anos atrás e menos preparado ainda pra era da informação que vivemos atualmente.

Essa discussão é importante para sabermos que o processo de formação do intelecto humano requer milhares de anos, de modo que nosso funcionamento ainda é demasiadamente impulsionado pelo nosso instinto emocional, pela busca da sobrevivência. Razão pela qual nossas decisões tem muito mais um cunho emocional, como medo, aversão a perda, evitar o risco, preservação da espécie, do que razão. Nosso cérebro não pensa de forma estatística, ele pensa de forma dramática, ignoramos as estatísticas e nos apegamos ao que traz medo. Tudo isso se consolidou em nossa mente como vieses cognitivos.

Vieses cognitivos são tendências de pensamento, as quais surgem geralmente a partir de:

  • Atalhos de processamento de informações – heurísticas
  • A nossa capacidadede processamento limitada do cérebro – embora pese 2% a 3% de nossa massa corporal, ele consome 25% de nossa energia
  • As motivações emocionais e morais: no que acreditamos
  • Distorções no armazenamento e recuperação de memórias: lembramos de momentos de uma viagem, mas não da viagem toda
  • Influência social

Essas tendências de pensamento interpretam informações de modo a fazer um sentido objetivo da realidade. Então, os cérebros humanos são programados para cometer todos os tipos de erros mentais que podem afetar nossa capacidade de fazer julgamentos racionais.

Existem mais de 180 tipos de vieses cognitivos que interferem na forma como processamos dados, pensamos criticamente e percebemos a realidade.

Viés da disponibilidade. Esse viés faz com que nós nos baseemos em eventos específicos, facilmente lembrados, excluindo outras informações pertinentes. É a tendência a superestimar a probabilidade de eventos com maior disponibilidade na memória e que pode ser influenciada por quão recentes são as memórias ou o quanto elas são incomuns ou emocionalmente carregadas.

Viés da confirmação. É a tendência a procurar, interpretar, focar e lembrar-se de informações de tal forma que confirmem nossas próprias ideias preconcebidas. É muito mais fácil confirmar o que já pensamos do que descobrir e admitir que estamos errados – para isso, existem um custo psicológico, uma perda. Temos mais aversão à perda do que ao risco.

Rolf Dobelli descreve vários erros de pensamento no livro “A Arte de Pensar Claramente” e que ele chama de desvios sistemáticos em relação à racionalidade. Um dos erros clássicos em investimento é a falácia do custo irrecuperável (sunk cost fallacy) na qual o investidor acha que só pode vender uma ação que caiu quando ela pelo menos voltar para o custo de aquisição. Entendemos que a decisão de investimento deve considerar as perspectivas futuras e não as perdas passadas. Segundo Dobelli “A triste piada da falácia de custo irrecuperável é a seguinte: quanto mais dinheiro você já tiver perdido com uma ação, mais se apegará a ela.”

Texto baseado nos seguintes livros: The Little Book of Behavioral Investing. Montier, James. O Inédito Viável em Finanças Pessoais. Dias, Emerson Weslei. A Arte de Pensar Claramente. Dobelli, Rolf.