História da Bolsa de Valores no Brasil e do Ibovespa

A Bolsa Livre foi fundada em 23 de agosto de 1890 pelo presidente Emílio Rangel Pestana, no que seria o embrião da Bolsa de Valores de São Paulo. Com vida curta em razão da política do encilhamento, a bolsa encerrou suas atividades em 1891 e só veio ressurgir em 1895. Naquele ano nascia a Bolsa de Fundos Públicos de São Paulo.

Cerca de 40 anos depois, com a maturação do mercado de ações no Brasil, a bolsa foi transferida de lugar e foi instalada no Palácio do Café, localizado no Pátio do Colégio, na zona central da capital paulista. No ano seguinte, em 1935, seu nome foi novamente alterado, passando para Bolsa Oficial de Valores de São Paulo. Somente em 1967 a entidade passou a ser denominada Bovespa, a Bolsa de Valores de São Paulo.

Até o início da década de 1960, a Bovespa e as demais bolsas brasileiras – ao todo eram 27, uma por Estado – eram entidades oficiais corporativas, controladas pelas secretarias estaduais de finanças (as atuais secretarias da fazenda).

Com as reformas implementadas do sistema financeiro nacional entre 1965 e 1966, as bolsas assumiram a característica institucional. Explicando: elas deixaram o governo e se transformaram em associações civis sem fins lucrativos. A partir daí elas se tornaram autônomas financeira, patrimonial e administrativamente.

Desde o nascimento do mercado de capitais brasileiro, no início do fim do período colonial, a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro era o grande mercado. A situação só começou a mudar de figura com a crise econômica de 1970, com o “crash” durante o governo militar, quando a importância da Bovespa começou a crescer em relação à bolsa do Rio.

Em 2000, São Paulo e Rio comandaram um acordo de integração das nove bolsas de valores brasileiras ativas: além da Bovespa e Bolsa do Rio, se uniram a de Minas – Espírito Santo – Brasília, do Extremo Sul, de Santos, da Bahia – Sergipe – Alagoas, de Pernambuco, da Paraíba, do Paraná e a Bolsa Regional. A partir de então, as ações de companhias abertas e os títulos privados seriam todos negociados na Bovespa. A Bolsa do Rio, por sua vez, ficaria encarregada do mercado eletrônico de títulos públicos, serviço lançado em agosto daquele ano.

Após todas as mudanças anteriores, em apenas quatro anos outras quatro modificações transformaram a Bovespa no que ela é atualmente. Em setembro de 2005 houve o fim do pregão eletrônico 100% doméstico, dando fim a toda aquela confusão de papéis e corretores ao telefone que foi por muito tempo símbolo do mercado financeiro.

Na sequência, em 2007, ocorreu a abertura de capital – IPO – da empresa coligada Bovespa Holding, que é um consórcio das corretoras que operam na bolsa. E, em seguida, no dia 26 de março de 2008, a Bovespa anunciou oficialmente o início do processo de fusão com a BM&F (Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros), nome da instituição fruto da fusão que perdura até hoje.

Uma das maiores referências para os investidores de renda variável, o Ibovespa nasceu em janeiro de 1968 e, ao longo das últimas décadas, já passou por muitas fases. As transformações foram graduais, mas hoje o índice é um pouco menos concentrado e suscetível às influências de estatais.

Uma decisão de 1967 passou a permitir que contribuintes utilizassem parte do imposto devido na compra de cotas dos chamados fundos 157, de ações de companhias de abertas, estimulando o mercado de ações. A medida foi revogada em 1983.

Entretanto, com os juros reais extremamente elevados naquela época e, depois, a atuação do BNDES oferecendo crédito subsidiado, por muitas décadas o mercado acionário não era uma alternativa viável de captação de recursos para as empresas brasileiras. Ao mesmo tempo, para os investidores fazia muito mais sentido aplicar em títulos públicos, com risco muito menor, mas que ofereciam rendimento bastante elevado.

Nas primeiras carteiras teóricas, o Ibovespa era repleto de empresas de commodities e de indústrias de base, como siderúrgicas e metalúrgicas. Em 1968, as cinco maiores participações do índice concentravam 37,2% do total. Na década de 1970, o índice era claramente dominado por estatais. Na década de 1980, as estatais ainda tinham protagonismo, mas começavam a dar espaço para as privadas, como a Paranapanema.

Em 1985, a grande campeã de participação no índice era justamente a Paranapanema, produtora de cobre, com 23% das ações da carteira teórica.

Nos anos 1990, as empresas de telecomunicações dominavam, e a Telebrás chegou a representar metade do índice, que foi criado pelo economista Mário Henrique Simonsen. Anos depois, no entanto, em vez de diluir os pesos das empresas no índice, a concentração aumentou. Na carteira de 1995, a Telebrás ainda abocanhava 33,9% do Ibovespa e a as cinco maiores participações detinham 65,7% do total.

O Ibovespa era ponderado pela liquidez. Quanto mais negociada a ação, maior o peso. Essa distorção permaneceu até o fim de 2013.

Atualmente, as cinco principais ações do Ibovespa representam 36,5% do índice, patamar semelhante à carteira válida de setembro a dezembro de 1968, porém diferente e mais diversificado em sua composição total. O setor de serviços era pouco diversificado há 15 anos atrás. Hoje temos educação, saúde, locadoras, shoppings e outros. Só Vale e Ambev (ações da Antarctica, então) resistem até hoje desde a primeira formação do índice.

Entre os dez maiores pesos no Ibovespa, a concentração passou de 66% em 1968 para 55,3% neste ano. A redução da concentração do índice foi muito importante. Antes havia o total domínio de Petrobrás, Eletrobrás e Telebrás. A expansão de empresas novas e setores novos foi o grande ganho nos últimos 15 a 20 anos. E muito se deve às emissões do Novo Mercado.

Não só as empresas eram diferentes nos primórdios do Ibovespa, mas a metodologia que calculava quem entrava ou saía do índice também passou por mudanças. Desde 2014, a forma de filtrar as empresas mudou com o intuito de corrigir distorções, como a que permitiu que OGX tivesse parcela de 5% no Ibovespa no primeiro quadrimestre de 2013.

Para fazer parte do índice hoje, as ações e units precisam estar presentes em 85% dos pregões e ter volume financeiro acima de 0,01% no último ano. O índice é reavaliado a cada quatro meses e as ações e units que fazem parte dele precisam corresponder a cerca de 80% dos negócios e do volume financeiro de toda a bolsa brasileira. O índice é quadrimestral porque nos primórdios tudo era calculado à mão.

Na carteira em vigor atualmente, o setor de serviços financeiros, que engloba a própria B3, bancos e seguradoras, ganhou espaço e representa 36,3% do total, superando as comodities, que ocupam 28,5% da carteira. O peso das estatais segue elevado, com 11,8% do índice concentrado em Petrobras.

Embora muitos eventos políticos e econômicos tenham impacto nos preços das ações e, por consequência, no Ibovespa, o principal índice acionário do país não pode ser usado como um termômetro da economia real, ou seja, não representa de verdade o que acontece no mercado corporativo e na vida das pessoas.

Entretanto, a bolsa brasileira ainda não representa a economia brasileira em termos de diversificação setorial. Se adotarmos a indústria de alimentos como exemplo, podemos entender melhor a representatividade. Com 35,7 mil empresas no país, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), apenas quatro estão no Ibovespa: Ambev, BRF, Marfrig e JBS. Outros nomes de peso da alimentação estão fora da carteira do Ibovespa, como Minerva, Camil, Burger King, IMC e M. Dias Branco.

Como base de comparação, o S&P 500, índice acionário americano, tem as 500 principais empresas (por liquidez e tamanho de mercado), enquanto o Ibovespa tem apenas 68 companhias atualmente.

Hoje temos 328 empresas listadas na bolsa, mas com real liquidez, apenas umas 200 companhias. No último pico do mercado, no fim de 2007 – ano marcado pela popularização das aberturas de capital -, a bolsa chegou a ter mais de 400 empresas. Precisaria pelo menos umas 500 empresas listadas com alguma liquidez para haver uma melhor diversificação do Ibovespa e da bolsa.

Na década de 1990 a participação de investidores estrangeiros também era completamente irrisória. Foi nessa época, com a onda de privatizações, que alguns estrangeiros chegaram à bolsa. Mas um crescimento significativo só ocorreu mesmo na década de 2000. O salto recente no número de pessoas físicas cadastradas na bolsa, que já supera 1,5 milhão, é outro indicador do potencial de crescimento do mercado.

Apesar de representar um universo menor de opções para investir, o mercado acionário brasileiro apresentou avanços importantes nos últimos anos, como o forte aumento no volume negociado e a maior diversificação de empresas e setores. Além disso, o corte dos juros para as mínimas históricas permitiu o crescimento da participação do investidor local, especialmente de varejo, ampliando o acesso a recursos por empresas. Hoje, já é possível montar estratégias diversificas com ações de menor liquidez.

Vale ressaltar que abrir capital no Brasil não é um processo barato. Pesquisa da PwC aponta que os custos para um IPO na bolsa local variam de 2,5% a 5,6% dos recursos captados. Além disso, muitos empresários ainda resistem em dividir o controle e prestar satisfações a minoritários e analistas. Esse receio do empresário brasileiro em abrir capital é cultural.

De fato, os juros nas mínimas têm forçado os investidores a migrarem para a renda variável – processo que, aliado à expectativa de recuperação mais forte da economia, vai levar mais empresas à bolsa. O recorde de ofertas de ações este ano de 2019, com mais de R$ 76 bilhões, é sinal disso, apesar de os IPOs terem movimentado apenas R$ 10,2 bilhões.

Com a evolução da economia e aprimoramentos regulatórios, há potencial para o mercado brasileiro crescer bastante. Hoje o valor de mercado das empresas listadas em bolsa equivale a 61,2% do PIB, mas essa proporção é muito maior em países desenvolvidos e mesmo em alguns emergentes.

Baseado em informações da B3 e artigos do Jornal Valor Econômico

Behavioral Investing

As finanças comportamentais são um tema cada vez mais em evidência. Atualmente vários pesquisadores tem procurado entender a relação entre a razão, a emoção e as decisões de investimentos, o comportamento econômico e a tomada de decisão. É uma área que estuda as influências cognitivas, sociais e emocionais observadas sobre o comportamento econômico das pessoas.

Richard Thaler, economista americano da Universidade de Chicago, foi um dos pioneiros, no final dos anos 70, a estudar as relações entre psicologia e economia. Na sua visão, a psicologia apontava para o fato de que as decisões econômicas e financeiras refletiam o poder das emoções sobre os comportamentos. Thaler, por muito tempo, trocou experiências com Daniel Kahneman e Amós Tversky, dois psicólogos e cientistas comportamentais israelenses.

Kahneman e Tversky são os responsáveis pela Teoria da Perspectiva, que rendeu a Kahneman (Amós já havia falecido) o prêmio Nobel de economia em 2002.

A Teoria da Perspectiva pode ser explicada de um modo bem simples:

O que você prefere?

  • Ganhar R$ 3.000,00 – com 100% de probabilidade ou
  • 80% de chances de ganhar R$ 4.000,00

Ao fazer essa pergunta a um grupo, a grande maioria escolhe a alternativa A, ou seja, preferem não correr o risco e garantir os R$ 3.000,00 líquidos e certos no bolso.

Por outro lado, se perguntarmos: O que você prefere?

  • Perder R$ 3.000,00 – com 100% de probabilidade ou
  • 80% de chance de perder R$ 4.000,00?

Desta vez, a maioria escolhe a alternativa D, ou seja, preferem correr o risco de perder R$ 4.000,00, acreditando no sucesso de 20% de chances de não perder, mas evitam a perda líquida e certa.

Isso significa que as pessoas em geral têm aversão à perda e não aversão ao risco – o risco é aceitável quando se busca evitar a perda. Segundo Kahneman, pela Teoria da Perspectiva perder dói 2,5 vezes mais do que o ganho.

O risco é inerente a qualquer atividade humana, pois viver já é um risco. Entretanto nos primórdios da origem humana, possivelmente os sobreviventes foram aqueles mais avessos ao risco e isto deve estar sedimentado no cérebro humano há milhões de anos. É provável que esses vieses de comportamento tenha origem no processo evolutivo do ser humano. A evolução é um processo muito lento e provavelmente nossos cérebros estão concebidos para o ambiente que lidamos há 150.000 anos atrás, nas savanas africanas, e não para lidarmos com a revolução industrial de 300 anos atrás e menos preparado ainda pra era da informação que vivemos atualmente.

Essa discussão é importante para sabermos que o processo de formação do intelecto humano requer milhares de anos, de modo que nosso funcionamento ainda é demasiadamente impulsionado pelo nosso instinto emocional, pela busca da sobrevivência. Razão pela qual nossas decisões tem muito mais um cunho emocional, como medo, aversão a perda, evitar o risco, preservação da espécie, do que razão. Nosso cérebro não pensa de forma estatística, ele pensa de forma dramática, ignoramos as estatísticas e nos apegamos ao que traz medo. Tudo isso se consolidou em nossa mente como vieses cognitivos.

Vieses cognitivos são tendências de pensamento, as quais surgem geralmente a partir de:

  • Atalhos de processamento de informações – heurísticas
  • A nossa capacidadede processamento limitada do cérebro – embora pese 2% a 3% de nossa massa corporal, ele consome 25% de nossa energia
  • As motivações emocionais e morais: no que acreditamos
  • Distorções no armazenamento e recuperação de memórias: lembramos de momentos de uma viagem, mas não da viagem toda
  • Influência social

Essas tendências de pensamento interpretam informações de modo a fazer um sentido objetivo da realidade. Então, os cérebros humanos são programados para cometer todos os tipos de erros mentais que podem afetar nossa capacidade de fazer julgamentos racionais.

Existem mais de 180 tipos de vieses cognitivos que interferem na forma como processamos dados, pensamos criticamente e percebemos a realidade.

Viés da disponibilidade. Esse viés faz com que nós nos baseemos em eventos específicos, facilmente lembrados, excluindo outras informações pertinentes. É a tendência a superestimar a probabilidade de eventos com maior disponibilidade na memória e que pode ser influenciada por quão recentes são as memórias ou o quanto elas são incomuns ou emocionalmente carregadas.

Viés da confirmação. É a tendência a procurar, interpretar, focar e lembrar-se de informações de tal forma que confirmem nossas próprias ideias preconcebidas. É muito mais fácil confirmar o que já pensamos do que descobrir e admitir que estamos errados – para isso, existem um custo psicológico, uma perda. Temos mais aversão à perda do que ao risco.

Rolf Dobelli descreve vários erros de pensamento no livro “A Arte de Pensar Claramente” e que ele chama de desvios sistemáticos em relação à racionalidade. Um dos erros clássicos em investimento é a falácia do custo irrecuperável (sunk cost fallacy) na qual o investidor acha que só pode vender uma ação que caiu quando ela pelo menos voltar para o custo de aquisição. Entendemos que a decisão de investimento deve considerar as perspectivas futuras e não as perdas passadas. Segundo Dobelli “A triste piada da falácia de custo irrecuperável é a seguinte: quanto mais dinheiro você já tiver perdido com uma ação, mais se apegará a ela.”

Texto baseado nos seguintes livros: The Little Book of Behavioral Investing. Montier, James. O Inédito Viável em Finanças Pessoais. Dias, Emerson Weslei. A Arte de Pensar Claramente. Dobelli, Rolf.

Paciência

“O mercado não é uma maquina de acomodação, ele não vai te proporcionar altos retornos só porque você precisa deles.” “Peter Bernstein”

O mercado brasileiro de ações está passando por uma fase muito complexa. Com a recente queda de juros, o mercado ficou bem mais atrativo, houve a abertura de fundos muito grande e foi criada uma nova classe de fundos, os fundos de horizonte de investimento de curtíssimo prazo, com giros diários relevantes nas carteiras e com muitos movimentos baseados no bizú, ou seja, informações que podem movimentar os papéis. Essas informações tem as origens mais variadas possíveis, e podem ter impactos muito distintos no mercado também. É como se o mercado tivesse ficado distorcido com volume de trade fora do normal e reações exacerbadas em relação aos eventos. Nesse contexto gostaríamos de resgatar o brilhante capítulo entitulado “paciência” do excelente livro do Howard Marks chamado “The Most Important Thing”. Esse capítulo pode ser considerado como um antídoto a essa onda curto prazista que tem afetado o mercado brasileiro. Aos investidores brasileiros de horizonte mais longo e capacidade profunda de análise existe um recurso para conseguir não se envolver nessa onda e ganhar muito dinheiro. Esse recurso se chama “paciência”.

Seth Klarman afirma que um dos problemas que os gestores de fundo profissionais enfrentam é a fixação de um objetivo de rentabilidade a ser atingido. Tentar obter retornos agressivos não só não garante que você obtenha esses ganhos, mas também aumenta a probabilidade de ter perdas e se distanciar ainda mais do seu objetivo inicial, ampliando o seu problema.

Muitos investidores com o objetivo de obter resultados altos e rápidos acabam girando excessivamente os portfólios obtendo o resultado oposto ao desejado. Marks sugere que é melhor esperar os investimentos irem até você, do que ficar insistenteme os perseguindo.