Oxímoro

Peter Lynch e Warren Buffett costumam usar o termo oxímoro para descrever gerentes de fundo profissionais, pois na visão deles não podem ser classificados como investidores. Oxímoro tem justamente essa conotação de um paradoxo, ou uma contradição. O gerente de fundo profissional sofre pressões corporativas para apresentar frequentemente boas performances nas mais variadas janelas de tempo. E justamente essa pressão faz com que ele seja limitado na tomada de risco e acabe apresentando resultados medíocres. Toda vez que você abre espaço para ter um resultado muito bom, investindo em ações de menor liquidez ou de empresas menos conhecidas, você também fica suscetível a uma volatilidade de resultados alta e a possibilidade de ter momentos negativos em determinada janela de tempo, mesmo que no horizonte de investimentos mais longos você apresente uma rentabilidade muito boa.

“Lynch observa que a profissão tem uma lei não escrita que afirma que está bem fracassar da forma convencional aceita comumente, mas que você perderá seu emprego se tentar ser não convencional para ter um melhor desempenho e depois fracassar. Aqueles que se preocupam com a segurança do emprego gravitam em direção ao “aceitável”, investimentos seguros, não ousando comprar nenhuma ação fora do comum. Se eles se mantêm dentro da forma convencional de fazer as coisas, por exemplo, só investirem em ações sólidas blue chips que avançaram bem no passado recente, então, se sofrem uma reversão, não serão culpados porque: (a) outros pensadores convencionais (por exemplo, um chefe) não irão condenar a compra de tais empresas “boas e sólidas”, assim como a IBM ou a Procter & Gamble; e (b) porque são apenas um entre os centenas de gerentes a sofrer no movimento de baixa. Sua má decisão está perdida no meio da má decisão do rebanho.

Assim, para a maioria dos gerentes de fundos, é importante não parecer mal se fracassar. Então, quando precisam encarar a escolha de comprar uma empresa desconhecida com uma boa chance de fazer um lucro excepcionalmente grande e a garantia virtual de um pequeno mau desempenho ao comprar uma empresa estabelecida, os incentivos dentro da indústria de gerenciamento de fundos são de tal forma que a maioria dos gerentes selecionaria o segundo:

“Eles não compram o Walmart quando as ações são vendidas a US$ 4 e é uma lojinha insignificante em uma cidadezinha insignificante no Arkansas, mas que logo vai se expandir. Eles compram Walmart quando existe uma loja em toda cidade grande, cinquenta analistas seguem a empresa e o presidente do Walmart aparece na revista People. Nesse momento as ações são vendidas a US$ 40.”

A ação não convencional é possível para investidores privados, mas não acontece naturalmente para gerentes de fundos que sabem que um mau resultado pode arruinar uma carreira – a mediocridade está na ordem do dia.” Os Grandes Investidores. Arnold, Glen.

E no Brasil ainda tem uma complicação a mais, pois as crises econômicas e políticas são muito frequentes. Nesse sentido se você monta uma carteira com ações small caps com alto potencial de valorização e passa por uma das crises frequentes brasileiras você pode sofrer muito na rentabilidade e não ter paciência para esperar a volta ou até mesmo ter de sair da posição por regras de “stop loss”.

Peter Lynch

Peter Lynch é conhecido como um dos gestores de fundo mais bem sucedidos do mundo. “Durante os anos de 1977 a 1990, enquanto gestor do Fidelity Magellan Fund, Lynch conseguiu uma taxa anual de 29,2% transformando um investimento de US$ 1.000, 13 anos depois em US$ 28 mil. Seu fundo teve um desempenho consistente, ganhando do mercado de ações em todos os seus 13 anos, exceto dois. A base de ativos cresceu de US$ 18 milhões para US$ 14 bilhões, tornando-o o maior do mundo e atraindo mais de 1 milhão de acionistas quando ele decidiu sair.” Os Grandes Investidores. Arnold, Glen.

Apesar de ser um profissional relativamente convencional, trabalhando para um dos Assets mais tradicionais americanos que é a Fidelity, Lynch tinha muita personalidade e opiniões pouco convencionais sobre diversos assuntos da área de investimentos.

Dentre essas suas visões muito pessoais e nem sempre alinhadas com o pensamento convencional da área de investimentos está o conceito de que o gestor amador tem condições semelhantes, se não melhores, de competir do que o gestor profissional. Ele acha que os gestores de fundo profissionais tem uma propensão a errar junto com a massa por conseguirem explicar melhor a má performance comparando a sua com a de seus pares que também apresentaram resultados ruins em determinados períodos em função de questões econômicas exógenas do que em adotar posições diferentes da média dos gestores e correr o risco de acertar ou errar sozinho. Keynes já havia identificado essa questão algumas décadas antes quando afirmou uma das frases que são constantemente lembradas: “A sabedoria ensina que é melhor para a reputação fracassar de modo convencional do que ser bem sucedido de forma não convencional.” A pressão sobre um gestor de fundos de casas grandes e conhecidas por resultado é muito grande, ao mesmo tempo que se exige que os fundos não tomem muito risco e sejam conservadores, objetivos muitas vezes antagônicos. Este tipo de raciocínio tira muito a liberdade dos gestores que acabam tendo posições em ações muito semelhantes e apresentando performances que gravitam em torno dos benchmarks. Podemos citar como exemplo aqui no Brasil alguns chefes de Asset inexperientes e com traços de esquizofrenia, que pedem para os gestores baterem a bolsa quando ela performar bem e for positiva, mas por outro lado ganhar do CDI em casos de realização da bolsa. Objetivos claramente conflitantes.