Valuation 1

Graham, por volta de 1930, já era preocupado  com o conceito de valor intrínseco. Esse é um tema vital para a área de investimentos. O mercado de ações promove um serviço muito importante para a sociedade. Ele permite que você troque uma quantidade de dinheiro que você não precisa no curto prazo por um pedaço de uma empresa que gera lucro e caixa e que terá suas ações valorizadas nesse processo e dará um bom resultado para o seu investimento quando você vender essa ação no futuro. Mas só deveríamos investir em algum ativo se conseguíssemos fazer alguma estimativa, por algum processo de valuation, e chegar à conclusão de qual o valor justo, ou pelo menos uma faixa de preços que indique o valor justo. Essa busca pelo valor justo talvez seja a busca humana pela verdade absoluta. As pessoas que observam os mercados gostariam de tentar entender por exemplo qual o valor justo da bolsa e porque ocorrem oscilações tão grandes.

Entendemos que quando estendemos o horizonte de tempo é possível fazer uma estimativa razoável de um ativo e que o preço de mercado desse ativo tenda a buscar o valor justo ao longo do tempo, prevalescendo os fundamentos do ativo.

Também é importante ressaltar que não existe um processo perfeito para a precificação de ativos. Existem caminhos, processos e escolhas que vão nos aproximar do valor justo de um ativo, ou pelo menos, uma região de preços.

Nesta análise iremos nos ater mais no valuation de ações. O mundo do valuation de ações é um mundo amplo, complexo e que permite várias abordagens. E apesar da tecnicidade do processo, avaliar uma empresa também envolve muita arte.

Outro conceito importante para o desenvolvimento desse tema é a diferença entre preço e valor. Oscar Wilde definiu um cínico como aquele que “sabe o preço de tudo e o valor de nada”. Muitos investidores que tem essa mesma visão consideram o investimento como um jogo e o sucesso como estar na frente dos concorrentes em termos de rentabilidade. O preço é definido por uma série de fatores mais conjunturais como a concorrência, a escassez, enquanto que o valor é mais fundamentalista, varia menos e depende de fatores estruturais. Em muitas situações do dia a dia, nós não compramos um produto por achar que ele não vale o quanto estão pedindo por ele. Esse é um exemplo intuitivo de diferença entre preço e valor.

Existem duas abordagens principais sobre a questão do valuation: a (i) intrínseca e a (ii) relativa. O valor intrínseco de um ativo é determinado pelo fluxo de caixa que você espera que este ativo vá gerar ao longo da vida e qual a incerteza envolvida nesse fluxo. Você irá pagar mais por uma empresa que possui um fluxo de caixa estável do que uma que tem alta volatilidade. Assim como você pagará mais por um imóvel que tenha um contrato de locação de longo prazo do que um que muda os locatários com frequência. Entendemos que o foco principal deve ser na busca do valor intrínseco, mas o valor relativo também faz parte do processo de valuation e para alguns tipos de negócios pode ser muito importante. No valor relativo os ativos são avaliados comparando qual o valor que o mercado dá para ativos semelhantes. Se pensamos no valor do imóvel, buscamos imóveis na vizinhança que foram vendidos recentemente para buscar um parâmetro de preço por metro quadrado. No caso de ações, se empresas de consumo costumam ser negociadas a uma base de 15 vezes o índice de preço/lucro, e uma empresa está negociando a 10 vezes, parece ser uma opção de investimentos atrativa.

Apesar de existirem muitos puristas que defendem apenas o valor intrínseco ou o relativo, o melhor mesmo é a combinação das abordagens pois o valor intrínseco, acompanhado da modelagem de fluxo de caixa descontado permite entender o que acontece com o valor da empresa em função das mudanças nas premissas, sejam econômicas ou do negócio, enquanto que o valor relativo, através dos múltiplos permite ver o quanto o mercado está disposto a pagar por aquele ativo em determinado momento. O ideal é investir em ações que estejam atrativas pela ótica das duas abordagens.

Texto baseado nos livros: The Little Book of Valuation. Damodaran, Aswath. The Nature of Value. Gogerty, Nick. Valuation – Como Precificar Ações. Póvoa, Alexandre.

Benjamin Graham 4

Valor intrínseco era um conceito importante para Graham, apesar de ele não conseguir detalhar com precisão. Naquela época ainda não existiam modelos de avaliação de empresas mais sofisticados, tais como o fluxo de caixa descontado. Havia alguns conceitos tais como estimar por qual valor a empresa inteira poderia ser vendida para um comprador, ou avaliar os lucros futuros da empresa e consequentemente os dividendos futuros. Mas isso depende de muitos fatores, de novos produtos, do ambiente competitivo, do comportamento dos concorrentes, do ambiente regulatório e esses elementos podem mudar com frequência. Por isso que o Graham era tão favorável ao conceito de margem de segurança.

A terceira lição importante de Graham, além de olhar as ações como pedaços da empresa e a margem de segurança, é a lição de que os investidores deveriam tirar vantagem das flutuações de mercado e não ficar muito preocupados com elas. Existe muitos fatores não técnicos que movem os mercados e que não deveriam ter peso tão grande, pois o preponderante no longo prazo é efetivamente o valor justo da empresa e que deve ser refletido pelo preço da ação.

Para Graham, os investidores deveriam manter a disciplina de comprar e vender nos seus parâmetros e quando os preços das ações estiverem em níveis intermediários, apenas observar o mercado. Esse é um dos dramas da atividade de investimento, a necessidade de estar sempre atuando e tomando decisões, mesmo que não haja nenhuma para ser tomada em determinado momento.

Neste trecho do livro “O Investidor Inteligente” Graham transmite sua visão sobre os especuladores e seu comportamento maníaco-depressivo na parábola do Sr. Mercado:

“Imagine que em alguma empresa privada você possua uma parte pequena que custou US$ 1.000. Um dos seus parceiros, chamado Sr. Mercado, é muito prestativo. Todo dia ele diz o quanto acha que vale o seu investimento e assim se oferece para comprar sua parte ou para vender outra parte  com base naquele valor. Às vezes a idéia de valor que ele tem parece plausível e justificada por avanços na empresa e perspectivas, como você sabe. Geralmente, porém, o Sr. Mercado permite que seu entusiasmo o seus medos tomem conta, e o valor que ele propõe parece um tanto quanto tolo. Se você é um investidor prudente ou um empresário sensível, vai deixar a comunicação diária do Sr. Mercado determinar sua visão do valor de um investimento de US$ 1.000 na empresa? Só se concordar com ele, ou caso você queira negociar com ele. Pode estar feliz em vender a ele quando cotizar um preço ridiculamente alto, e igualmente feliz em comprar quando seu preço for baixo. Mas o resto do tempo será mais inteligente ter idéias próprias de valor sobre seus investimentos, baseados em relatórios completos da empresa sobre suas operações e posições financeiras.”

Texto baseado no livro “Grandes Investidores. Glen Arnold”