Warren Buffett provavelmente é o investidor mais conhecido, estudado e bem sucedido do mundo. Começando do nada, simplesmente escolhendo ações e companhias para investimento, Buffett acumulou uma das maiores fortunas do século XX. Durante um período de quatro décadas, Buffett suplantou o mercado de ações por uma margem assombrosa e sem correr riscos indevidos ou sofrer um único ano de perdas. Trata-se de um feito que os sábios de mercado, os corretores de Wall Street e acadêmicos julgam ser impossível.
Acho que falar do Warren Buffett é um ato que envolve uma certa responsabilidade por estar falando do melhor investidor de todos os tempos, uma pessoa simples e ao mesmo tempo extremamente sofisticada na sua filosofia de investimento. Muitos livros foram escritos tentando formar uma imagem de um investidor com múltiplas habilidades. Tentaremos nesse capítulo fazer uma grande simplificação, pois poderíamos escrever um livro só sobre esse tema e já seria pouco. Faremos um esforço para descrever suas principais características, um pouco da sua história, traços da sua filosofia de investimentos, já sabendo que será um retrato incompleto de um gênio. Deixaremos também uma boa bibliografia e sugerimos fortemente aos leitores que posteriormente se aprofundem no tema Warren Buffett. Importante também lembrar que o Warren Buffett é provavelmente um dos maiores doadores para Fundações, ou seja, um dos maiores filantropos do mundo.
Uma das características que eu mais gosto no Warren Buffett é sua independência e autenticidade de raciocínio num mundo onde as pessoas estão cada vez mais burocratizadas e pasteurizadas. Buffett reforça muito o conceito do investidor versus o gestor de fundos profissional que age mais politicamente do que buscando as melhores opções de investimentos. Para os gestores profissionais atuais, o importante é participar da comunidade financeira e errar em conjunto. Dessa forma existe a explicação que vários gestores de qualidade também estavam investidos naquela ação de uma empresa de qualidade, tal como Apple por exemplo. Buffett é o exemplo vivo da possibilidade de ser autêntico, independente, pouco preocupado com a opinião da comunidade financeira e apresentar uma performance muito diferenciada, um antídoto à mediocridade, ao comportamento de rebanho e a busca de resultados pequenos de curto prazo.
Terei de fazer um esforço grande para escrever resumidamente sobre Warren Buffett e procurar passar a essência do grande gênio da área de investimentos em ações. O gênio de Buffett é principalmente um gênio de caráter – paciência, disciplina e racionalidade.
Os acionistas que investiram com Buffett também ficaram ricos, com o seu capital sendo beneficiado exatamente na mesma proporção que o dele. Se uma pessoa tivesse investido US$ 10.000 quando Buffett deu início à sua carreira em seu escritório de Omaha, em 1956, e ficasse com ele o tempo todo, teria um investimento final em 1994 da ordem de US$ 80 milhões.
Buffett nasceu em 1930, em Omaha, Nebraska, onde ainda vive. Seu pai, Howard, dirigia uma empresa de corretagem e mais tarde foi por quatro legislaturas congressista dos Estados Unidos. Desde jovem, Buffett mostrou uma forte aptidão para o dinheiro e os negócios, demonstrando tanto empreendedorismo quanto iniciativa, primeiro trabalhando no mercado de seu a avó, e aos 11 aos fazendo apontamentos no painel da Harris Upham, uma corretora de ações na Bolsa de Nova York que ficava no mesmo prédio da corretora de seu pai.
Seu primeiro investimento aconteceu cedo. Aos 11 anos, ele, a sua irmã Doris, compraram três ações preferenciais da Cities Services a US$ 38,25 por ação. Desse primeiro investimento, ele aprendeu três lições valiosas, que mostraram ser influentes por toda sua carreira de investimentos. Lição um: não entre em pânico se os preços caírem. O investidor precisa de paciência e força de vontade para permanecer firme em caso de adversidade. As ações da Cities Service caíram para US$ 27. Lição dois: não venda para ter um lucro de curto prazo. Se o investidor tem a convicção de que seu investimento é bom, então não deveria vender para ter um lucro rápido. A Cities Service subiu até US$ 40, quando Buffett vendeu, mas elas mais tarde chegaram a US$ 202 por ação, que teria dado um lucro de US$ 490 a Buffett e sua irmã. Essas duas lições ensinaram a Buffett sobre a importância de investir em boas empresas no longo prazo. Lição três: Buffett aprendeu sobre responsabilidade pessoal. Sentiu-se culpado quando a ação caiu porque sua irmã tinha confiado o dinheiro dela para ele. Estava determinado a ter certeza do sucesso, se fosse investir o dinheiro dos outros; esse exemplo ético seria a base de sua vida profissional.
Como investidor, Buffett evitava o uso de opções, derivativos, futuros, proteção dinâmica, análise moderna de portfólio e todas essas estratégias desenvolvidas pelos acadêmicos. Ao contrário dos especialistas em ações atuais, cuja mentalidade é de um operador, Bufett arriscava seu capital no crescimento de longo prazo de uns poucos negócios selecionados. Nesse ponto, lembrava os magnatas de uma época anterior, como por exemplo o velho J.P. Morgan.
Buffett se formou na Woodrow Wilson High School em 1947. Enquanto estava na escola acumulou uma quantia de dinheiro considerável que se tornaria a base para o seu primeiro fundo de investimentos. Buffett, nessa época, até completar 14 anos, teve várias atividades, entregador de jornais, comprava pacotes de Coca-Cola e a as vendia individualmente com lucro, coletava e reciclava bolas de golfe, publicava uma folha com dicas sobre as corridas de cavalo, comprou máquinas de fliperama e as alugava para barbearias, comprou 40 acres de terra em Nebraska e alugava para um fazendeiro.
Aos 17 anos, Buffett entrou na Wharton School of Finance, mas depois de dois anos se decepcionou com o que era ensinado na faculdade e saiu para completar sua graduação na Universidade de Nebraska. Foi em Nebraska que ele leu o livro que mudaria a sua vida e daria as bases para os seus investimentos: “O Investidor Inteligente”.
Ao sair de Nebraska em 1950, formado em economia, se inscreveu em Harvard, mas foi rejeitado. Na época ele ficou chateado com isso, mas entrou em Columbia onde conheceu e estudou com Benhamin Graham, que se tornou não só seu professor, mas seu amigo. Foi o único estudante a receber um A+ na matéria de análise de títulos. Deixou Columbia em 1951 com um Mestrado em Economia e um bom conhecimento dos princípios de Graham: valor intrínseco e margem de segurança.
Enquanto estudava em Columbia, Buffett ficou sabendo que Graham era diretor de uma seguradora que era listada em bolsa e que chamada Geico. Ele conseguiu uma reunião com um executivo que permaneceu por quatro horas respondendo as perguntas de Buffett por considerá-las inteligentes. Ele gostou muito do negócio de seguros e principalmente pela possibilidade da empresa poder aplicar as reservas em investimentos. Quando estava trabalhando na corretora do pai, Buffett investiu 65% do seu patrimônio em ações da Geico, que na época eram US$ 10.282. Tentou convencer clientes a investirem também, mas ninguém foi convencido por um jovem de 20 anos, com exceção da sua tia Alice, que ganhou bastante dinheiro investindo com ele. Em 1952 ele vendeu suas ações por US$ 15.259, o que é um bom retorno. Mas se tivesse mantido suas ações por mais 20 anos teria vendido por US$ 1,3 milhão. Essa foi mais uma das lições aprendidas. Quando você encontrar uma empresa excelente mantenha suas ações pela tempo que ela consiga manter esse nível de excelência.
Buffett tinha muita dificuldade para falar em público e se inscreveu num curso do Dale Carnegie. Ele conseguiu superar essa dificuldade, começou a dar aula na Universidade de Omaha e pediu Susie em casamento.
Nos anos que passou na corretora ele conseguiu se aproximar de Graham, discutindo idéias de investimentos, e em 1954 conseguiu ser admitido como analista de investimentos. Esse período foi muito importante pois ele conseguiu absorver os fundamentos de Graham. Quando Graham se aposentou dois anos depois, Buffett com 25 anos, voltou para Omaha com um fundo de US$ 174 mil. Essa foi a chance para ele começar seu próprio fundo e aplicar tudo que tinha aprendido até então. Ele via Omaha como um lugar muito melhor para pensar investimentos do que Nova York, onde havia estímulos o tempo todo. Se você é atingido por uma avalancha de notícias, choques de curto prazo e dicas, há o risco que você comece a reagir as informações. Você pode começar a negociar excessivamente as ações, perder a visão de mais longo prazo e o foco nos fatores que realmente são importantes para a empresa.
Baseado nos livros: Arnold, Glen. Os Grandes Investidores. Lowenstein, Roger. Buffett: A Formação de Um Capitalista Americano.